Quinhentismo
A literatura brasileira surgiu com a noção de Brasil
Marco zero: 1500 – chegada dos portugueses no Brasil
Declínio: 1601, com o fortalecimento do Barroco.
Imagine você se, em uma expedição a Marte, descobríssemos vida alienígena. De um dia para o outro, toda a nossa concepção de mundo, seres, ciências, espiritualidade, enfim, tudo o que nós julgávamos conhecer, seria pulverizado pela noção de que a vida humana não se restringe àquilo que nós conhecemos.
Algo semelhante deve ter se passado com os seres humanos em torno dos séculos XV e XVI, quando as potências ultramarinas Portugal e Espanha descobriram que a vida humana não se restringia à Europa e aos territórios já conhecidos, e que, para além disso, existia toda uma variedade de seres humanos, culturas, fauna, flora, tudo desconhecido até então. Naturalmente, dentro de uma concepção de mundo de conquistadores, os europeus decidiram tomar posse das terras e das pessoas recém encontradas, expandindo ainda mais seus domínios.
Esse momento das grandes navegações foi responsável por profundas mudanças sociais, culturais, econômicas não apenas em território europeu, mas, principalmente, nos territórios recém conquistados. Afinal, os povos nativos das Américas também passaram pelo choque do novo, porém a maioria deles não teve tempo de assimilar essa mudança, pois foram cruelmente massacrados e escravizados pelos europeus. Isso não é novidade para ninguém, certo?
Ao mesmo tempo em que a expansão ultramarina europeia acontecia, um braço importante da Igreja Católica era criado: em 1534, a Companhia de Jesus era fundada por Inácio de Loyola. A principal função dessa companhia e dos seus integrantes, os jesuítas, era missionária e catequética, ou seja, o intuito da Companhia de Jesus era levar ao mundo recém “descoberto” a religião católica, educando os povos conquistados dentro do catolicismo. A partir de 1549, os jesuítas passaram a atuar no Brasil.
Nesse primeiro momento de nossa história enquanto Brasil, a literatura produzida em nosso território e que chegou aos nossos tempos era de autoria de homens portugueses, pois eram eles que detinham o monopólio da cultura escrita. Graças à devastação que a colonização causou nos povos indígenas, que se inscreviam na cultura oral, perdemos irreparavelmente povos, suas culturas, suas línguas e literaturas.
Assim, quando falamos em Quinhentismo, falamos especificamente dos textos escritos em território brasileiro que serviram a propósitos colonizatórios, exploratórios ou catequéticos, como veremos a seguir. Por esse motivo, nem todos os teóricos da literatura brasileira consideram esse período como parte da literatura brasileira, sendo que só irão iniciar nossa linha do tempo no período literário posterior a esse, o Barroco.
A “pré-história” da literatura brasileira
Para Alfredo Bosi, esse momento é um dos fundadores da nossa literatura e possui, para além do caráter de testemunho – importante até hoje, como forma de acesso à visão dos conquistadores sobre nosso povo e território originais –, a capacidade da sugestão de temas e formas que, no século XX serão resgatados no movimento modernista.
Literatura de informação
Data de 01 de maio de 1500 o primeiro texto escrito em território brasileiro que se tem notícia. Esse texto, escrito por Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, tinha a missão de informar o rei de Portugal, Manuel I, a respeito da terra exótica – suas riquezas, potenciais, peculiaridades – em que tinham acabado de aportar, dez dias antes, em 22 de abril de 1500.
A carta de Pero Vaz de Caminha entra na categoria de literatura de informação, assim como os demais registros dessa época, cuja função é exatamente essa: informar a respeito do novo território, da configuração da fauna e da flora, dos habitantes autóctones e seus costumes, dos potenciais exploratórios e colonizatórios. Assim, a função estética parece ser relegada ao mero bem escrever, não aparentando ser uma preocupação dos autores desse momento.
Perfil dos autores:
Viajantes, cronistas de ofício
>>> Pero Vaz de Caminha
>>> Pero Lopes e Sousa
>>> Pero Magalhães Gândavo
>>> Fernão Cardim
Literatura de informação: o valor histórico se sobrepõe ao valor literário// As cartas do descobrimento (“achamento”), reflexo das grandes navegações// relato descritivo da terra, fauna e flora, e dos índios// eram a única fonte de informações sobre o Brasil do século XVI// linguagem adjetivada uso constante de superlativos.
Literatura jesuítica
Aportados no Brasil em 1549, os jesuítas também se inscrevem na literatura de informação, através de seu trabalho de cronistas – a intenção pedagógica e moral é acrescida a conteúdo informativo dos relatos. Os nomes de Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim se destacam nesse período, mas é sobretudo José de Anchieta (1534-1597) que chama a atenção pelo caráter estético que imprime a seus textos – poemas devocionais e peças teatrais pedagógicas e catequéticas.
José de Anchieta escreveu a primeira gramática do Tupi-Guarani, espécie de cartilha para aprender a língua dos nativos, além de poesias na tradição medieval e peças de teatros (autos medievais, como de Gil Vicente) em que se misturava a moral católica aos costumes dos indígenas, caracterizando os extremos (Bem X Mal; Deus X Diabo).
Síntese
Época: séculos XV e XVI
No mundo:
Grandes navegações
Companhia de Jesus
No Brasil:
Início do processo exploratório e colonizatório
Literatura de informação e jesuítica
>>> AUTORES
Viajantes, cronistas de ofício, missionários
Pero Vaz de Caminha
Pero Lopes e Sousa
Pero Magalhães Gândavo
Fernão Cardim
Manuel da Nóbrega
José de Anchieta
>>> PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
Função informativa e/ou jesuítica;
Olhar europeu sobre o “exótico brasileiro”
Objetividade, clareza e comedimento no escrever
Gêneros informativos e descritivos: crônicas, relatos, tratados, cartas e diários.
Gêneros literários (José de Anchieta): poesia devocional, teatro catequético.
>>> TEXTOS DA ÉPOCA (CLIQUE PARA ACESSAR):
Auto da festa de São Lourenço, de José de Anchieta