Parnasianismo

A arte pela arte

O parnasianismo foi um movimento essencialmente poético que reagiu contra os abusos sentimentais dos românticos;

Teve início na França, em 1866, com a publicação de O Parnaso, que faz referência a uma montanha existente na Grécia onde, segundo a lenda, moravam o deus Apolo (da luz e das artes) e as musas inspiradoras das artes;

No Brasil, surgiu no fim do século XIX, por meio da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias (1882);

Considerado o movimento poético do Realismo, apesar de ser diametralmente oposto à temática e à ideologia do Realismo;

Os principais autores do Movimento foram Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

>>> QUANTO À FORMA

  • Busca pela perfeição formal

  • Vocabulário culto;

  • Gosto pelo soneto, rimas raras, métrica, chaves de ouro;

  • Gosto pelas descrições.

>>> QUANTO AO CONTEÚDO

  • Objetivismo;

  • Racionalismo;

  • Universalismo;

  • Natureza, história, amor, poesia;

  • Mitologia greco-latina;

  • Arte pela arte – arte alienada;


>>> Dicas para a leitura de poemas:

  1. Todo poema tem que ser relido para que se tente encontrar o ritmo dele. Em geral, todo poema tem certa musicalidade. Encontrar o ritmo é fundamental para compreendê-lo.

  2. Para isso, leia em voz alta. Ouvir o poema e compreender sua sintaxe facilita a identificação da sua estrutura, a identificação dos relatores referenciais, por exemplo, ou do raciocínio desenvolvido nele.

  3. Esteja aberto às sensações que o poema quer provocar.

  4. Relacione o título ao dito no poema e tente determinar qual é o tema do poema.

  5. As questões do ENEM geralmente cobram a compreensão do texto, mais do que a memorização das escolas literárias. Mas saber algumas palavras-chave de cada Movimento pode ajudá-lo a compreender mais facilmente o poema.


Olavo Bilac

NEL MEZZO DEL CAMIN...

(Poesias, Sarças de fogo, 1888.)


Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha...


E paramos de súbito na estrada

Da vida: longos anos, presa à minha

A tua mão, a vista deslumbrada

Tive da luz que teu olhar continha.


Hoje, segues de novo... Na partida

Nem o pranto os teus olhos umedece,

Nem te comove a dor da despedida.


E eu, solitário, volto a face, e tremo,

Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.

OUVIR ESTRELAS


(Poesias, Via-Láctea, 1888.)


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."


A UM POETA


(Tarde, 1919.)


Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, no silêncio e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!


Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica, mas sóbria, como um templo grego.


Não se mostre na fábrica o suplício

Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:


Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade.

LÍNGUA PORTUGUESA


(Tarde, 1919.)


Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura;

Ouro nativo, que, na ganga impura,

A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceanos largos!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,


Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


AS ONDAS


(Tarde, 1919.)


Entre as trêmulas mornas ardentias,

A noite no alto mar anima as ondas.

Sobem das fundas úmidas Golcondas,

Pérolas vivas, as nereidas frias:


Entrelaçam-se, correm fugidias,

Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,

Vestem as formas alvas e redondas

De algas roxas e glaucas pedrarias.


Coxas de vago ônix, ventres polidos

De alabastro, quadris de argêntea espuma,

Seios de dúbia opala ardem na treva;


E bocas verdes, cheias de gemidos,

Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,

Soluçam beijos vãos que o vento leva...

Raimundo Correia

ÚLTIMO PORTO


(Aleluias, 1891.)


Este o país ideal que em sonhos douro;

Aqui o estro das aves me arrebata,

E em flores, cachos e festões, desata

A Natureza o virginal tesouro;


Aqui, perpétuo dia ardente e louro

Fulgura; e, na torrente e na cascata,

A água alardeia toda a sua prata,

E os laranjais e o sol todo o seu ouro...


Aqui, de rosas e de luz tecida,

Leve mortalha envolva estes destroços

Do extinto amor, que inda me pesam tanto;


E a terra, a mãe comum, no fim da vida,

Para a nudeza me cobrir dos ossos,

Rasgue alguns palmos do seu verde manto.

AS POMBAS


(Sinfonias, 1883.)


Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

De pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sanguínea e fresca a madrugada...


E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...


Também dos corações onde abotoam,

Os sonhos, um por um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;


No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais...

Alberto de Oliveira

VASO GREGO


Esta, de áureos relevos, trabalhada

De divas mãos, brilhante copa, um dia,

Já de aos deuses servir como cansada,

Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.


Era o poeta de Teos que a suspendia

Então, e, ora repleta ora esvazada,

A taça amiga aos dedos seus tinia,

Toda de roxas pétalas colmada.


Depois... Mas o lavor da taça admira,

Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas

Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,


Ignota voz, qual se de antiga lira

Fosse a encantada música das cordas,

Qual se essa voz de Anacreonte fosse.