Humanismo

Com a decadência do Trovadorismo, impulsionada pelas mudanças drásticas que o século XV representou na Europa e pelo apogeu de uma nova visão de mundo, centrada no ser humano, um novo movimento literário surge em Portugal: o Humanismo.

Oficialmente, o marco inicial do Humanismo é a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de Guarda-Mor da Torre do Tombo, em 1418 pelo rei Dom Duarte. Esse episódio representa uma mudança significativa na forma de ver e fazer cultura em Portugal, mais humanizada.

O declínio do Humanismo será marcado pela viagem de Sá Miranda à Itália, em 1527, de onde retorna inflamado com as ideias e inovações trazidas pelo Renascimento italiano.

Contexto histórico

De maneira bem geral, os séculos XV e XVI foram bons séculos para Portugal, sobretudo graças às Grandes navegações. Devido à grande exploração territorial, Portugal viveu um período de grande crescimento econômico e de desenvolvimento de laços comerciais. O novo mundo que se descortinada diante dos olhos europeus trouxe uma profunda mudança no conhecimento e concepções da sociedade.

Nesse momento de florescimento econômico, a classe social burguesa surgiu e tomou força, sobretudo graças à política de mercantilismo e também ao surgimento dos banqueiros.

As ciências, por sua vez, tomaram carona no crescimento econômico e se expandiram. Nesse momento, irão surgir pesquisas em anatomia e astronomia também. Um fato importantíssimo que não podemos esquecer dessa época é a invenção da imprensa, por Gutenberg. O primeiro livro impresso no mundo foi uma cópia da Bíblia, entre 1450 e 1455.

Naturalmente, a mudança de visão sobre o mundo impulsionada por todas essas “revoluções” vai também influenciar o pensamento e a filosofia. Gradativamente, o teocentrismo vai perdendo espaço e cedendo lugar a uma filosofia humanista, baseada no antropocentrismo (do grego: Anthropos (humano) e kentron (centro)).

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Textos do humanismo

Parte da produção literária da época foi de prosa doutrinária, ou seja, de textos de caráter religioso girando em torno da necessidade catequética da Igreja Católica. Além disso, as novelas de cavalaria continuam a ser produzidas durante esse movimento.

Como parte da renovação cultural empreendida por Dom Duarte, a historiografia passa a ser uma parte fundamental da produção da época, na forma de crônicas historiográficas. Nesse cenário, também se desenvolvem a poesia palaciana e o teatro popular.

Crônica historiográfica:

Encabeçada sobretudo por Fernão Lopes, a crônica tem caráter essencial tanto para a literatura quanto para a história, pois se tratava de um gênero baseado em fatos históricos reais, que buscava transparecer a realidade social, política, cultural de acontecimentos de determinado período histórico.

Esses textos são marcados pela figura do cronista-historiador que busca criar uma descrição detalhada de fatos históricos. Uma de suas características principais é o regiocentrismo, ou seja, são textos históricos que giram em torno da figura e importância do rei.

Poesia palaciana

Desenvolvida dentro da corte e para a corte, a poesia palaciana representa uma verdadeira ruptura em relação à poesia trovadoresca. Ao contrário de sua antecessora, a poesia palaciana rompe com a música, sendo escrita para a declamação apenas. Além disso, ela também rompe com o formalismo do trovadorismo de separar e classificar tipos de poemas.

Na poesia palaciana, encontramos novos tipos de recursos estilísticos, sobretudo os que dizem respeito à sonoridade, uma vez que ela é criada para ser lida em voz alta. Há, assim, exploração da sonoridade, através do ritmo e das rimas, uso de métrica, sobretudo da redondilha, bem como a exploração da expressividade da linguagem.

Outro ponto marcante em oposição ao trovadorismo é a variedade de temas presente nas obras desse período. Notadamente, apresentam-se temas de influência greco-romana e também a sensualização do amor.

De maneira geral, a poesia palaciana sobreviveu graças aos registros de Garcia de Resende, em seu cancioneiro geral (1516).

Teatro popular

Como forma de entretenimento acessível aos plebeus, o teatro popular surgiu e ganhou grande força durante o Humanismo. Com sua linguagem e formas de encenação mais acessíveis ao povo, o teatro popular também apresentava temas de grande apelo popular.

No teatro, os gêneros comuns eram as farsas e os autos. Farsas tinham curta extensão e tratavam de críticas sociais de forma caricatural. Já os autos, também curtos, apresentavam elementos cômicos com intenção moralizante.

Esse teatro, que às vezes contava com intervenção do público, é via de regra um teatro profano, ou seja, sua função não era catequética. Apesar disso, temas e figuras do catolicismo eram comuns, como no caso do “auto da barca do inferno”, de Gil Vicente.

Nascido em 1465 e falecido em cerca de 1536, Gil Vicente é o maior nome do tetaro do humanismo, tendo produzido autos e farsas, entre os quais o “Auto da barca do inferno”, a “Farsa de Inês Pereira”, “O velho da horta” e o “Auto da Lusitânia”.

O teatro de Gil Vicente, o pai do teatro português, era bastante rudimentar, com estrutura que rompe a estrutura clássica teatral, seguindo uma lógica mais popular que não respeita às unidades de tempo, ação e espaço.

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Síntese

  • Portugal - 1418 até 1527

  • Marco inicial: 1418 - nomeação de Fernão Lopes para Guarda-mor da Torre do Tombo (rei D. Duarte);

> Transição do teocentrismo para o antropocentrismo;

> Grandes navegações, ascensão da burguesia, metalismo;

> Desenvolvimento econômico e científico;

  • Crônicas historiográficas

> Regiocêntricas;

> Fatos históricos;

> Cronista-historiador;

  • Poesia palaciana

> Separação da poesia e da música;

> Recursos estilísticos: rima, ritmo, métrica

> Temática variada

> Amor sensual

  • Teatro popular

> Gil Vicente

> Teatro acessível: forma de encenação, temas e linguagem populares

> Teatro profano

> Autos e farsas